terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

PONTO DE VISTA - JORNAL A VOZ DA SERRA: GUERREIROS ALFABETIZADOS NA LUTA PELA VIDA



Ana Paula Cortes Rodrigues é educadora há 34 anos. Desde novembro de 2011, coordena a Educação de Jovens e Adultos (EJA), órgão da secretaria municipal de Educação de Nova Friburgo. Fez cursos de aperfeiçoamento em Madri e na Califórnia e nos últimos dez anos tem se dedicado especificamente a práticas pedagógicas e didáticas desta educação. 

"São inúmeras as barreiras que precisam ser vencidas para que cada um desses alunos volte a estudar. Há muita insegurança! Só com carinho e cuidado nós conseguimos gerar um ambiente que os acolha como são”, diz a educadora.  

Empolgada com seu trabalho, os olhos de Ana Paula brilham quando fala sobre as vitórias alcançadas pelo EJA, o que deixa transparecer neste Ponto de Vista. Confira.  


Ana Paula Cortes Rodrigues

Quando faço a relação entre analfabetos e educados, penso no mundo em que vivo e trabalho. Desde que comecei a trabalhar com alfabetização de adultos, passei a aprender todos os dias a viver melhor e a enxergar situações que, até então, nunca tinha percebido de forma tão nítida e, às vezes, até cruel.

Basta nos debruçarmos sobre alguns números. A taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou de mais idade é de 9,6% , ou seja, 14 milhões só no estado do Rio e 52.336 milhões no país. Realidade brasileira: somos o oitavo país com maior número de analfabetos e dos chamados "analfabetos funcionais”.

Quando relaciono o grande número de pessoas nesta situação de analfabetismo no nosso município, sou obrigada a me confrontar  com a qualidade da educação didática e curricular oferecida aos nossos cidadãos. O que mais me impressiona é a educação que os cidadãos excluídos da sociedade adquiriram.  

Os "ditos” analfabetos são de grande importância quando prestam serviço às famílias, às empresas privadas, aos órgãos públicos, ao nosso dia a dia, enfim. Nem notamos que são quase analfabetos. Afinal, conseguem "ler” uma lista de tarefas, deixar "escrito” o que está faltando na geladeira e até "assinar” seu nome. Na verdade, porém, vivem sem serem notados.

Instrumentalizar essas pessoas com competências e habilidades acadêmicas tem sido meu grande desafio e meta. Estas pessoas tão educadas, gentis, amorosas e companheiras nos dão, cotidianamente, uma grande lição de vida. Em seu mundo peculiar e intrigante, vivem uma exclusão velada. 

Em novembro de 2010, quando cheguei à EJA, procurei conhecer e visitar cada unidade escolar. Na época, eram 20 e a quantidade de alunos matriculados era muito baixa.

No ano seguinte, devido aos efeitos da catástrofe climática que se abateu sobre nossa cidade, o desafio foi maior ainda. Além de todas as situações citadas, Nova Friburgo estava de luto. Dolorida, sem perspectivas e chorosa. Envolvi-me, então, no desafio de motivar essas pessoas não alfabetizadas ou cujos estudos foram interrompidos pelo destino, por vezes cruel com muitos, a voltar aos bancos escolares. 

O que, ressalte-se, não havia acontecido por vontade própria e sim pelas contingências da vida: distorção entre a idade e a série, desmotivação pura e simples, a necessidade de trabalhar na roça ou em casas de família, gravidez na adolescência e por aí vai. 

Conheci e comecei a trabalhar de perto com essas pessoas que tinham perdido tudo, literalmente tudo. Vidas arruinadas e uma autoestima extremamente baixa. Naquele ano, trabalhei duramente. Fui a todos os lugares da sociedade para convidar os moradores a retornarem às escolas.

 Aparelhei pedagogicamente a EJA do município através do método denominado "Proposta Curricular Vivências e Experiências na Educação de Jovens e Adultos” e o implantei em 13 unidades escolares. Resultado: terminamos o ano com 480 alunos.

Mas, para tanto, foi e continua sendo preciso preparar corretamente os professores, porque todos os alunos têm histórias difíceis. Ninguém chega ao EJA porque quer. Essa é uma dívida social que temos, uma dívida de toda a sociedade. 

Em 2012, porém, nosso trabalho - meu e, sobretudo, dos professores que lidam diretamente com os alunos - começou a ser reconhecido, aprovado pela sociedade, com a divulgação dos compromissos sociais que assumimos. Em 2013, terminamos o ano letivo com 820 alunos, embora 1.100 estudantes tenham passado por nossas escolas naquele ano. Os que desistiram representam uma sazonalidade comum na EJA.

Quando penso nas histórias dos alunos vivenciadas por mim, não sei descrever a felicidade que invade o meu coração. Um dia, ao chegar a uma unidade escolar, uma aluna me chamou: "Ô, lorinha” (é assim que, carinhosamente, eles me tratam). Eu me virei e respondi: "Oi, como vai?”. Nesse momento, ela me puxou pelo braço, pegou algumas placas e leu: "cozinha”, "banheiro”, "recepção”, "almoxarifado”, "sala número 1”, "amor”, "ponto”. Eu chorei, pois ela tinha chegado à escola para aprender a ler onde estava escrita a palavra "ponto”. Na empresa em que trabalhava, havia um "ponto” que era batido com um cartão e ela sempre precisava de ajuda, pois não conseguia sequer ler o que estava escrito acima do aparelho. Nos demos um abraço tão bom, tão gratificante que, por mim, estaria, até agora, grudada nessa moça. Parabéns também àqueles que chegaram para ler a bíblia, tirar a carteira de motorista, melhorar a situação na empresa em que trabalha... São muitas as histórias lindas vividas por eles, só por quererem educação.

Para mim, a educação é, paradoxalmente, o que de mais antigo e mais atual que a humanidade tem em seu poder. Quando seguramos a mão de um adulto para formar palavras, olhando em seus olhos, vemos todo o cansaço do seu dia de trabalho, pois muitos vêm da lavoura e despertam às 4h da manhã para trabalhar. Outros vêm de uma jornada de 8 horas de expediente em vários segmentos da sociedade. 

Mas, percebemos em todos eles, sem exceção, a grande emoção de ter voltado à escola por sua própria vontade, pois logo deixarão para trás toda a exclusão sofrida. São guerreiros estes brasileiros. É preciso reconhecer e enaltecer seu sacrifício e seu imenso esforço em busca do conhecimento. Não, não é nada fácil trabalhar o dia todo e, ainda assim, ir para a escola à noite. 

Sempre falo com esses alunos sobre a importância de cada um deles para mim e para nossa cidade. Procuro não deixar que eles se esqueçam de que é pensando, lendo e escrevendo que contamos nossas histórias.

Valorizo - e como valorizo! - as histórias de vida desses adultos sedentos de informação. Rompo com eles cada fronteira e me emociono com a vitória alcançada. Tenho certeza de que estas pessoas que deixaram o analfabetismo para trás podem alçar voos muito mais altos do que um dia imaginaram. Acredito que muitas delas lerão este artigo sem necessidade de pedir que alguém faça isso por elas. E me sinto imensamente feliz, pois cada uma delas representa um número a menos na triste estatística do analfabetismo no país. 

PRIMEIRA REUNIÃO PEDAGÓGICA 2014: “TEM QUE TER DOM... PARA EN-CANTAR...”




 






Professores das 21 unidades escolares na primeira capacitação


 
















FELIZ OLHAR NOVO!!!
                                                                              

O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história.
O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e o AGORA. Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais... Mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?
Quero viver bem! Este ano que passou foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal. Às vezes se espera demais das pessoas. Normal. A grana que não veio o amigo que decepcionou o amor que acabou. Normal.
O ano que vai entrar não vai se,r diferente. Muda o ano, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?
O que eu desejo para todos nós é SABEDORIA!
E que todos saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Que todos consigam perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim. Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria 3, dos amigos. Ou mude de classe, transforme-o em colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.
O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro):
CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE.
Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas, se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.
Desejo para você esse olhar especial.
O ano que vai entrar pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro. O ano que vai entrar pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular... ou... Pode ser puro orgulho! Depende de mim, de você! Pode ser. E que seja!!!
Feliz olhar novo!!! Que o ano que se inicia seja do tamanho que você fizer.
Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizer jus e acreditarmos neles!!!"

                                               Que bom que você faz parte da nossa equipe.




           



           Acolhimento dos professores: a metáfora da rosa



Ana Paula Cortes Rodrigues, Maria José de Jesus Reis, Edméa Thuler - Equipe da Coordenação da EJA - na primeira capacitação para os professores da rede municipal de educação















Ana Paula Cortes Rodrigues: vivência e experiência na Educação de Jovens e Adultos