quinta-feira, 19 de setembro de 2013

PROJETO DE OLHO NO FUTURO

         Numa emocionante cerimônia, o Rotary Club de Nova Friburgo, no dia 31 de agosto, fez a doação de 18 óculos para os alunos EJA. Agradecemos a parceria para que nossos estudantes possam, de fato, ficar "de olho no futuro".
           Da Escola Municipal Rui Barbosa, foram contemplados os seguintes alunos: Monoacyr Ferreira da Silva, Janice da Conceição Rodrigues, Noir da Paixão, André de Moura Gomes, Dilma Camara Cordeiro, Angela Maria do Couto, Vilma Maria de Carvalho, Kátia Aparecida, Fátima Lúcia de Souza, Fernando Couto da Silva.
          Os alunos João Gabriel Martins, Cremilda Maria Gomes de Souza, MAria José da Silva de Oliveira, Cleuza Amália Ouverney Heringer, Valdenei da Silva Franco, Zelina Paredes de Carvalho de Paula, Sidiney Jacinto da Mota e Maria Raposo Jardim, da Escola Hermínia da Silva Condack também receberam seus óculos para ficarem de "olho no futuro".




















segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Educação de Jovens e Adultos: porque nunca é tarde para aprender (A Voz da Serra)









Alunos do curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA): exemplos de perseverança
Alunos do curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA): exemplos de perseverança

Texto: Márcio Madeira                        

Fotos:  Ana Paula Cortes, Lúcio Cesar Pereira e Márcio Madeira

Os números são de fato impressionantes. Há apenas três anos, a rede municipal em Nova Friburgo contava com 68 alunos inscritos em cursos voltados à Educação de Jovens e Adultos (EJA). Atualmente eles são mais de 900, espalhados por 21 unidades de ensino. E esses índices não param de crescer.

"O aumento que estamos vendo na procura é inacreditável”, comemora a coordenadora municipal do EJA, Ana Paula Cortes Rodrigues. "Porque são tantas as barreiras que precisam ser vencidas para que cada um desses alunos volte a estudar... Tanta insegurança... Que só mesmo com muito carinho e muito cuidado nós conseguimos gerar um ambiente que os acolha como são. É preciso preparar corretamente os professores, porque todos os alunos têm histórias difíceis. Ninguém chega ao EJA porque quer. Essa é uma dívida social que nós temos, uma dívida de toda a sociedade”, argumenta.

"O aluno que procura o EJA já sofreu algum tipo de distorção idade-série, e agora nós conseguimos fazer o diagnóstico do motivo”, explica a coordenadora. "São casos de DDA (Distúrbio Déficit de Atenção), TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), autismo, dislexia, gravidez na adolescência, menor infrator, ou que teve que sair da escola para trabalhar e ajudar pai e mãe, entre outros motivos. Antigamente a gente não tinha tanto suporte psiquiátrico para realizar esses diagnósticos e ensinar da maneira mais adequada cada caso como conseguimos fazer agora”, diz Ana Paula.

O sucesso do programa, portanto, depende tanto de diretrizes científicas quanto de amor e dedicação por parte dos envolvidos. "Nossa metodologia considera todos esses fatores”, continua Ana Paula. "Nós aplicamos aqui os conceitos da andragogia, a linha de pesquisa que estuda as melhores práticas para orientar adultos a aprender. Nossa proposta curricular aproveita muitas das propostas de Paulo Freire, trabalhando com exemplos baseados nas vivências e experiências do aluno. E isso costuma gerar uma resistência enorme, porque eles mesmos esperam uma continuidade daquilo que receberam na infância. E não pode ser assim, a forma de aprendizado muda muito ao longo da vida. Você não pode simplesmente escrever as sílabas no quadro e associar a fonemas. O processo é muito mais complexo.”

A adequação metodológica, no entanto, nem sempre é recebida com naturalidade. "É sempre necessário explicar aos alunos que essa etapa já foi queimada, e que pelas regras infantis eles não irão aprender da melhor forma. Atualmente existem estudos neurológicos e de diversas outras naturezas, apontando quais as melhores maneiras de aproveitar o potencial cerebral nas diversas fases da vida. Respeitando essas regras e trabalhando com amor, nós não apenas temos conseguido reduzir a evasão, como temos visto muitos alunos convencendo outras pessoas em situação semelhante a retomarem os estudos”, concluiu Ana Paula.

 

 


O sucesso do EJA em Nova Friburgo começa pelo preparo e pela

dedicação da equipe de coordenação. Na foto, a coordenadora

Ana Paula Cortes Rodrigues (c), Maria José de Jesus Reis (e) e Edméa Thurler Raymundo (d)



Novecentas histórias de vida

Números, no entanto, podem mostrar apenas a pequena parte visível de um iceberg muito maior. Cada um deles, afinal, esconde uma história de vida repleta de percalços e de superação. Histórias que, de tão ricas, estão sendo apropriadamente reunidas pela professora Sonia Maria Torres Daflon em um livro a ser publicado.

Porque números não bastam para registrar episódios como o protagonizado pelo senhor Ary Sabino Herdy, que levava uma vida normal até que uma infecção bacteriana se instalou em seu cérebro, roubando-lhe a memória. "Eu estou no EJA há cinco anos. Vim para cá carregado, em cadeira de rodas. Eu tive amnésia e não sabia mais de nada, voltei a ser criança, tive que reaprender tudo. Então eu decidi estudar, aproveitando a proximidade de minha casa em relação à escola. E isso foi uma bênção para mim, porque minha memória começou a voltar. Minha vida voltou ao normal, mas até hoje eu ainda faço o tratamento médico e não quero mais parar de estudar”, conta.

Ou histórias como a de Dona Maria Otília, que teve uma infância difícil em Portugal e foi conhecer o gosto da leitura após os 80 anos de idade. Lúcida, falante e com excelente memória, a aluna mais experiente da rede municipal orgulha-se de ter escrito de próprio punho o capítulo que lhe é dedicado no livro de histórias do EJA. "A alfabetização mudou minha autoestima, mudou tudo na minha vida. Estou com 83 anos, mas sinto como se tivesse 50. Meu marido diz que eu tenho cabeça de criança”, comemora. "Quando vim para Friburgo eu não sabia nem o que era uma consoante. Eu tenho duas filhas. A Márcia, que é especial e estuda comigo, e a Fátima, que é professora do EJA. E foi graças a elas que depois de 80 anos, andando de bengala, eu finalmente tive a chance de estudar. No início eu não tinha coordenação motora, mas depois de muito praticar a minha letra está ficando bonita. A única coisa que eu lamento é que nossa escola não tenha turmas do sexto ao nono anos para que eu possa continuar estudando. Eu já estou fazendo o quinto ano pela segunda vez, para não parar de estudar. Mas eu gostaria de aprender coisas novas sem precisar sair daqui”, explica Dona Otília, referindo-se à Escola Municipal Hermínia dos Santos Silva, na Chácara do Paraíso.

Os exemplos se multiplicam pela sala de aula. Dona Henriqueta Guimarães Stoduto, 70 anos, ficou viúva e sentiu que precisava ocupar a cabeça com coisas construtivas. "Eu não estava conseguindo dormir, ficava chorando dentro de casa, não via graça em nada. Então uma professora me convidou e eu aceitei. Estou adorando. Ainda não faltei a nenhuma aula, para mim está sendo muito bom. Eu só enxergo de uma vista, e aqui eles escrevem as letras e os números maiores no quadro para que eu consiga entender. Antes, eu mal assinava o meu nome, trabalhei minha vida inteira. Gosto muito mais de aprender aqui do que de ficar em frente à televisão sem fazer nada”, explica.

 

Estudando para ler a Bíblia

Entre as muitas motivações que levam adultos a voltar à escola merecem destaque o desejo de ler a Bíblia e a vontade de conseguir a habilitação para dirigir.

No primeiro grupo encontramos pessoas como Dona Maria José Vieira Bello Exposto, de 72 anos. "Quando eu era solteira meu pai não deixava a gente estudar, porque tinha medo que a gente escrevesse bilhetes para namorado, então eu tinha que trabalhar. Eu não estudei. Casei, fiquei viúva, e tentei outra escola, onde não fui bem acolhida. Só agora, então, estou tendo a chance de aprender, e o que eu mais quero é conseguir ler a Bíblia.”

Além do estímulo religioso, também são muitos os estudantes que buscam o auxílio do EJA para conseguir a primeira habilitação. É o caso, por exemplo, de Benedito Ramos, 60 anos. "Eu me sinto um garoto. Não tive oportunidade de estudar quando era criança, e senti falta do estudo quando fui fazer a prova escrita para poder dirigir. Estou muito satisfeito, os professores cuidam muito bem da gente aqui. Eu sou jardineiro, e mesmo com o cansaço após o trabalho faço questão de vir estudar. Venho a pé desde Olaria até aqui na Chácara do Paraíso, para não chegar cedo demais.”

Além do carinho por parte dos professores, importa também destacar o respeito existente entre os alunos. "Os professores fazem de tudo para nos ajudar, cuidam muito da gente. E os alunos se respeitam também. Cada um tem suas dificuldades, mas é preciso que um respeite o outro. Graças a Deus nós só temos amizade aqui”, atesta o senhor Arlindo Carlos de Oliveira, de 56 anos, que pretende ler a Bíblia e tirar carteira de motorista. "Eu só estou triste porque meu óculos quebrou e eu estou tendo dificuldade para estudar”, confessou.

É claro que o cenário está longe de ser perfeito. O caso de dona Maria Otília mostra o quanto a rede ainda precisa ser ampliada, e a forma como esses alunos têm receios de mudar de escola a partir do momento em que se sentem acolhidos numa determinada unidade. Além disso, a despeito da procura crescente, muitas pessoas em Nova Friburgo ainda sofrem com as limitações do analfabetismo.

O rumo do trabalho, no entanto, parece correto e já rende bons frutos. Graças à competência e dedicação da coordenação do EJA, dos professores e do pessoal de apoio e, acima de tudo, à coragem e perseverança desses alunos com tanto a ensinar, esta matéria hoje pode ser lida por gente como o senhor Ary, a dona Otília, a dona Henriqueta, o senhor Benedito, o senhor Arlindo, dona Maria José... E esta é uma grande honra para todos nós.

 

Todas as unidades do EJA em Nova Friburgo


E.M. Acyr Spitz (Lumiar)

E.M. Amâncio Mário de Azevedo (Cascatinha)

E.M. Anna Barbosa Moreira (Lagoinha)

E.M. Bernardo Pacheco (São Geraldo)

E.M. Celcyo Folly (Amparo)

E.M. Cypriano Mendes da Veiga (Barracão dos Mendes)

E.M. Dermeval Barbosa Moreira (Olaria)

E.M. Dinah Lantimant Bravo (Santo André)

E.M. Estação do Rio Grande (Riograndina)

E.M. Helio Gonçalves Corrêa (Jardinlândia)

E.M. Hermínia dos Santos Silva (Chácara do Paraíso)

E.M. Hermínia Silva Condack (Campo do Coelho)

E.M. Jardel Hottz (Braunes)

E.M. Lafayette Bravo Filho (Alto do Floresta)

E.M. Messias Moraes Teixeira (Olaria)

E.M. Neuza Brizola (Centro)

E.M.N. Senhora de Nazareth (Estrada Rio Bonito)

E.M. Odette Pena Muniz (Villa Nova)

E.M. Rui Barbosa (Conselheiro Paulino)

E.M. Umbelina Breder de Queiroz (Jardim Califórnia)

E.M. Vevey Le Jolie (Conquista)

 


Com o expressivo aumento de alunos inscritos nos últimos anos, Nova Friburgo vem se tornando referência na educação de jovens e adultos no Estado do Rio de Janeiro

 


O senhor Ary Sabino Herdy perdeu a memória em decorrência

de uma infecção bacteriana. Voltar a estudar foi um passo

fundamental para que ele conseguisse recuperar suas lembranças 

 


Dona Henriqueta ficou viúva e preferiu estudar em vez de ver televisão em casa

 


Benedito Ramos, 60 anos, voltou a estudar para conseguir

a carteira de habilitação. E já tem aulas até de informática

 



Arlindo Carlos de Oliveira, 56 anos, une as principais

motivações dos alunos: quer ler a Bíblia e tirar carteira

de motorista. "Eu só preciso de um par de óculos novos”

 


Aos 83 anos de idade, a senhora Maria Otília é a aluna mais experiente

da rede municipal. "Gostaria que minha escola tivesse mais séries disponíveis,

para que eu pudesse concluir o ensino fundamental sem sair daqui”

 


Dona Maria José Vieira Bello Exposto, 72 anos: o pai não a deixava

estudar para que não escrevesse cartas a eventuais namorado
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